14 de julho de 2006

Em algum lugar do passado

Nao é só para mulheres...

Quando alguém chega à nossa vida, temos como hábito fazer uma sinopse do período em que essa pessoa ainda não figurava na nossa história. Começamos pelas passagens mais marcantes e menos assustadoras, mas depois, conforme a intimidade vai chegando, as partes obscuras da nossa trajetória também são confessadas. Depois de uns meses namorando o Renato e vendo que ele era um tarado em potencial, confessei que também gostava de transar com mulheres. Mas ele era o maior careta em relação a isso, e começou a ficar paranóico com as minhas amigas, com as festas que eu era convidada e com qualquer coisa que remetesse ao tema: filme, novela, música. Tentei levar o namoro porque gostava muito dele. Mas não podia conviver com alguém tolindo minha liberdade e desconfiando de mim o tempo todo, então a relação se desgastou, conta a publicitária Valéria Azevedo.

Deixar o passado vir à tona pode ser um sinal de que as defesas foram afrouxadas e que a relação é guiada, nesse momento, pela confiança e cumplicidade que você espera da criatura que convive contigo. Só que nem sempre a sensibilidade do outro é tão aguçada quanto a sua crocodilagem. Todas as minhas confissões do passado foram usadas contra mim pelo meu ex-marido. Outros relacionamentos desfeitos que eu tive e fatos da minha vida eram sempre lembrados por ele nas brigas. Eu era condenada pelos erros do passado a todo instante, desabafa a comissária de bordo Beatriz Nogueira.

Outro problema que também costuma deixar as pessoas reféns do passado é quando o par em questão era uma testemunha dele. Conheço minha namorada desde o tempo da escola. Ela presenciou várias fases e fatos da minha vida até me namorar. Então agüento, né? Não posso cruzar com nenhuma ex-namorada que ela me inferniza, está sempre lembrando dos meus rolos com outras mulheres, vive dizendo que eu sempre fui galinha. Não posso nem olhar pro lado quando estou com ela pra não ter ataque. Eu gosto muito dela e realmente não tenho vontade de aprontar, mas já avisei que paciência tem limite, confessa o engenheiro Ricardo Saldanha. A psicóloga Olga InêsTessari alerta que não se pode deixar levar pelas paranóias de quem está ao seu lado. Fazer o jogo do outro, como dar mil explicações e tentar se desculpar, é errado. É preciso se fazer respeitar, mostrando que ele está vendo coisas onde não existe, revela Olga Inês.

E nesse caso, de envolvimento com testemunhas do passado, é possível até escapar de virar refém, só que pelo menos um rótulo provavelmente você irá carregar. Eu estava saindo com uma menina que, digamos, não era lá muito comportada. Ela dizia que queria me namorar, que estava gostando de mim, mas apesar de estar amarradão fiquei com o pé atrás. Namorar com ela pra quê? Pra arrumar dor de cabeça, literalmente, né?, acredita o desenhista Fabiano Braga. Olga Inês Tessari diz que o fato de uma pessoa evocar o passado da outra para o relacionamento pode ter relação com o seu próprio passado. Às vezes, quando ele é mal resolvido, faz com que a pessoa projete isso na outra, acreditando que vai sofrer novamente. Aí, então, qualquer fato do passado do parceiro vai ser motivo para ela se sentir insegura e se achar uma vítima em potencial. Quando, na verdade, o problema é dela e a vítima acaba sendo o outro, que sofre com a sua paranóia, afirma a psicóloga, acrescentando que todo mundo é diferente e que misturar as estações só atrapalha a vida a dois.

Agora, para quem não consegue perceber essa diferença e insiste que fatos do passado são uma ameaça à sua segurança, Olga Inês indica a terapia para exorcizar os fantasmas: Quando a conversa e o bom-senso já não funcionam mais, a melhor alternativa é procurar ajuda profissional. Porque isso vai atrapalhar não só esse relacionamento, como todos os outros que ela possa vir a ter.

in Bolsa De Mulher

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