20 de julho de 2006

Paixões

São as nossas paixões que nos irritam contra as dos outros; é o nosso próprio interesse que nos leva a odiar os maus; se estes não nos fizessem nenhum mal, sentiríamos por eles mais piedade que ódio. O mal que os maus nos fazem leva-nos a esquecer o mal que se fazem a si mesmos. Perdoar-Ihes-íamos com mais facilidade os seus vícios se pudéssemos saber quanto os seus próprios corações os castigam. Sentimos a ofensa e não vemos o castigo; as vantagens são aparentes, o sofrimento é interior. Aquele que crê gozar do fru­to dos seus vícios não se sente menos atormentado do que se o não tivesse conseguido; o objecto muda mas a inquietação é a mesma; por mais que evidenciem a sua fortuna e escondam o seu coração, o seu comportamento demostra-o, mesmo sem que o queiram: mas, para nos apercebermos disso, é preciso que não tenhamos um coração semelhante.

As paixões que nos dividem seduzem-nos; as que chocam os nossos interesses revoltam-nos, e, por uma inconsequência que nos vem delas, criticamos nos outros o que desejaríamos imitar. A aversão e a ilusão são inevitáveis, quando somos obrigados a su­portar, por parte de outrém, o mal que faríamos se estivéssemos no lugar dessa pessoa. Então, que seria preciso para bem observar os homens? Um grande interesse em conhecê-Ios, uma grande imparcialidade ao julgá-los, um coração bastante sensível para conceber todas as paixões humanas e suficientemente calmo para não as experi­mentar.

Jean-Jacques Rousseau, in 'Emílio'

4 comentários:

Father R. Filipe disse...

Paixões são fodas bem dadas....

caps disse...

apesar d ser possivel ter fodas sem paixao, e paixao sem fodas...

Tresloucada disse...

O Caps está lá! :-)

Anónimo disse...

o Sr.Deadman Walking foi ignorado totalmente... quanto a mim és um frustrado!